TELEBRASIL 2006: as telecomunicações e a educação II

A sessão as “TeleComunicações e a educação”, que ocupou a tarde do primeiro dia do 50o Painel TELEBRASIL, no Club Med, por sua extensão, aqui é relatada em duas partes. Esta é a continuação da primeira matéria, publicada sob o título “TELEBRASIL 2006: as telecomunicações e a educação I”.

Telefônica e Telemar

O debatedor Jonas Oliveira Junior, diretor de Assuntos Corporativos do Grupo Telefônica, observou que um dos grandes desafios do País é não deixar que se crie uma próxima geração de excluídos digitais, sem acesso à Sociedade da Informação. O Grupo Telefônica quer contribuir para a inclusão digital como ferramenta para a inclusão social. O programa Educa Rede, por exemplo, se destina a criar uma comunidade de aprendizado em rede, com uma temática virtual voltada para a escola pública.

A RiSolidaria é uma rede internacional solidária, inciativa da Fundação Telefônica e voltada para o desenvolvimento do trabalho em rede. A Fundação, nascida em 1998 na Espanha – replicada na Argentina, Brasil, Chile, México e Peru – é voltada para o trabalho de ação social e cultural. No Brasil, a RiSolidaria tem parceria com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS), com vocação para a gestão social.

O Educa Rede tem capacitado milhares de professores e educadores no uso pedagógico da infra-estrutura de Internet. Em cinco anos passaram pelo Educa Rede 10 mil professores e 57 mil alunos, majoritariamente do ensino público. Em 2005, foram consultadas 19,5 milhões de páginas na Internet do Educa Rede, se considerado apenas o universo de 800 escolas em São Paulo.

A debatedora Samara Werner, diretora do Instituto Telemar, optou por traçar um mapa da exclusão social. Dos 5.707 municípios do País, 42% deles têm índices com características de exclusão social e que correspondem a 21% da população brasileira. O Brasil, que hoje é o 12o no ranking das economias mundiais, cai para 72o , se considerado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Hoje, o conhecimento dobra a cada cinco anos e estima-se que em 2006 este intervalo passe a 75 dias.

A divisão entre ricos e pobres passa pela realidade dos que têm ou não acesso ao saber. A inclusão digital vai ocorrer pela utilização intensiva das Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que atuará como vetor de transformação social. A educação brasileira, em grandes números, apresenta 55 milhões de alunos para 22 mil professores. Ou seja, uma relação de 2,5 mil alunos por professor. Como tal conjunto pode funcionar?

O Instituto Telemar comemorou cinco anos do projeto Kabum de arte e tecnologia. Em outubro de 2000, o Telemar Educação foi lançado em São Gabriel da Cachoeira do Manari, uma das localidades de mais baixo IDH e que hoje tem parceria com a Escola do Futuro, da USP.

Implantado em 16 estados, o Telemar Educação visa as escolas públicas que recebem computador, impressora, scanner e conexão Internet. Em Pernambuco, o projeto tornou-se política pública e integra a comunidade. O “Comunicação de Dados Digitais” tem 55 convênios assinados.

– O papel das telecomunicações é importante para a transformação social. São 380 mil ONGs que não deveriam operar de maneira isolada – observou a debatedora.

Embratel e Certi

Já Luiz Bressan Filho, diretor do Instituto Embratel, criado em abril 2001, falou do Projeto Embratel Educação, destinado a levar novas tecnologias de TICs para escolas públicas com baixo IDH. O Instituto Embratel, tornado Organização de Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP –, em 2003, se vale de parcerias com secretarias estaduais e municipais e com instituições de nível superior, como a PUC-Rio, além da Unesco e do MEC.

A TVPonto Com é um canal digital de TV para recepção em microondas ou por satélite – utiliza o Satélite B1 nas Bandas C e Ku – para ser recebido em bibliotecas e escolas. No projeto Embratel Educação, a empresa se vale do “TV Ponto com” para atingir, via satélite, localidades tão remotas quanto a escola David Ayres Freire, no Estado do Tocantins. Em Minas Gerais, é a comunidade da favela Santa Lúcia a beneficiada pela promoção de curso pré-vestibular para 120 alunos. No Araguaia, o sinal atinge a rodovia Manaus-Porto Velho. Em Pernambuco, no sertão de Moxotó, é a comunidade de Ibimirim que recebe o benefício.

O site do Instituto Embratel apresenta no Ponto Comunidade seis cursos para auto-especialização no uso de Internet, computador e sistema Linux. O site possui também quase dois mil vídeos e 25 mil páginas impressas que podem ser baixados via Web. A TVPonto Com difunde 24 horas por dia uma grade cultural e educativa com conteúdo voltado majoritariamente para bibliotecas e escolas públicas.

O debatedor Laércio Aniceto Silva, superintendente comercial da Fundação Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), sediada no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, explicou a estratégia de telecentros como uma solução para promover a inclusão digital e cuja filosofia é operar com finalidades educacionais, mas também empresariais.

– Esperamos dos telecentros a geração de resultados nos campos da tecnologia e da economia. A Internet para esse fim é um bom instrumento – comentou o palestrante. A Certi em parceria com a USP integra o grupo de técnicos do Governo que analisa o computador de 100 dólares, desenvolvido pelo Massachussets Institute of Technology (MIT). A filosofia do Certi é baseada no construtivismo de Pappert, que promove e suporta andanças mentais para os educadores.

O mundo possui cerca de 903 milhões de computares pessoais, 25% dos quais nos Estados Unidos e o restante basicamente distribuído entre 15 países. O Brasil com 2,2 milhões de domicílios dotados de computador pessoal (PC) situa-se como 11o do ranking mundial. O próximo passo é a interligação desses PCs com Internet em banda larga.

A dados de 2004, 21% das escolas em São Paulo contavam com laboratórios de informática. Em 3,5 milhões de pequenas e médias empresas de São Paulo, apenas 5% têm um microcomputador e dessas 46% nem acessam a Internet. O pequeno e médio empresário paulista ainda não dimensiona benefício suficiente para investir em informática.

Debates

Ao término da extensa sessão sobre as “TeleComunicações na Educação”, apesar do adiantado da hora, ocorreu uma rodada de debates, com a participação de uma interessada platéia. Houve até a proposição para que o Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República assumisse a coordenação geral das atividades disseminadas para a inclusão digital, com base em respaldo presidencial. A qualidade da educação permaneceria com o MEC e o NAE “ajudaria a fechar as pontas”.

Foi dito que a inclusão social passa pela inclusão digital e, tecnicamente, pela disseminação da banda larga. Lembrado na ocasião que nos EUA, All Gore, então vice-presidente no Governo Bill Clinton, lançou o programa Estradas da Informação. Os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações poderão ser utilizados para promover a interconexão em banda larga, laboratórios de informática (com 5 a 10 PCs) em escolas públicas e para pagar a utilização dos serviços.

No caso do estado de São Paulo, 90% de 600 municípios já contam com backbone de alta velocidade, restando o problema da última milha em banda larga, que está sendo, aos poucos, solucionado com uso de diversas tecnologias. O tema do software livre passa pela definição da distribuição do conteúdo e recai numa questão filosófica. O conhecimento é um bem de domínio público e não pode ter proprietário. Em termos práticos, com a economia obtida com o uso de software livre, o MEC conseguiu comprar mais 4,5 mil computadores para laboratórios de informática em escolas públicas. O ideal seria que educadores e alunos produzissem conteúdos livres.

Foi dito nos debates que ocorrem problemas de coordenação na área de educação, havendo a necessidade de uma estrutura que promova uma maior coordenação. Opinaram que um Projeto Nacional de Educação terá que dotar a União de um poder compulsório. Sem este dispositivo, estados e municípios farão o que bem entenderem em termos de educação. Um rearranjo institucional se faria necessário e aos poucos se forma um consenso nacional nesse sentido.

Sobre o laptop de 100 dólares, surgiu o argumento inusitado de “quem vai garantir a segurança do jovem portador desse equipamento para que ele não seja assaltado na primeira esquina?”. De qualquer maneira, o aparelho só ficará disponível a partir de 2007/2008. Foi lembrado que o MEC tem 18 mil obras de domínio público que podem ser acessadas livremente.

Ao término dos debates, conclui-se que o desafio da educação não terá fracassado por falta de diagnóstico dos participantes do TELEBRASIL 2006. É chegado o tempo para que os agentes da sociedade – dirigentes, empresários, setores público e privado –, de maneira integrada, coloquem mãos à obra. 

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