51° Painel TELEBRASIL: Brasil Digital surge como realidade irreversível – V

Um dos grandes Debates Executivos durante o 51o Painel, ocorrido na Costa do Sauípe (BA), de 31/05/2007 a 02/06/2007, reuniu sob a rubrica “Visão dos Fornecedores” top executives das empresas Alcatel-Lucent e Cisco, Juniper, Motorola, NEC, Nokia-Siemens Networks, PadTec, Qualcomm e Trópico. Neste módulo, que integra o registro dos pronunciamentos do Painel, Jonio Foigel (Alcatel-Lucent) e Pedro Ripper (Cisco). Também road map do evento que reuniu cerca de 400 participantes em torno do tema “O Brasil Digital”.Alcatel-Lucent, Cisco, Juniper, Motorola, NEC, Nokia-Siemens Networks, Padtec, Qualcomm e Trópico são associadas TELEBRASIL.

O Road Map da Programação do 51º Painel foi baseado num Painel Executivo que foi – para quem talvez não tenha se dado conta – um verdadeiro Planejamento Estratégico para “O Brasil Digital” – e num Painel Social (atividades esportivas, cafés da manhã, happy hour e jantares de gala, além do lazer proporcionado pelo complexo no Sauípe) favorecendo o networking.

O Painel Executivo, cobrindo dois dias, centrou-se em dois Debates Executivos. Um deles, suportado pelo conceito “Soluções Tecnológicas para Redes e Serviços Convergentes para O Brasil Digital”, trouxe a Visão dos Fornecedores, do Estado e da Sociedade. O outro, com o conceito “Redes e Serviços Convergentes para o Brasil Digital”, com Visão das Operadoras, do Estado e da Sociedade.

Várias figuras iluminaram o quadro conceitual do evento “O Brasil Digital” (com Cesar Rômulo Silveira Neto, superintendente da TELEBRASIL e SINDITELEBRASIL, completando o Painel Executivo). Discutiram-se ainda os conceitos da “Universalização, Melhoria da Qualidade e Aumento da Transparência dos serviços prestados pelo Estado Brasileiro” e “Um novo paradigma para prestação de Serviços pelo Estado Digital: universalização, qualidade e transparência” que deram oportunidades a key note speakers; e visões do Mercado, Estado, Sociedade e Externa.

O grupo de palestrantes que integraram a “Visão dos Fornecedores” foi constituído pelos altos dirigentes das multinacionais Alcatel-Lucent, Cisco, Juniper, Motorola, NEC, Nokia-Siemens Networks e Qualcomm, radicadas no Brasil, e das empresas nacionais Padtec e Trópico, que tiveram dez minutos regulamentares para dar seu importante recado, frente a uma platéia exigente e em clima estimulante de competição com seus próprios pares.

Foram palestrantes: Jonio Foigel (presidente da Alcatel-Lucent); Pedro Ripper (presidente da Cisco); Davi Caprioni (presidente da Juniper); Eduardo Stéfano (presidente da Motorola); Paulo Gomide Castelo Branco (presidente da NEC); Aluizio Byrro (presidente da Nokia-Siemens Networks e diretor estatutário da TELEBRASIL); Jorge Salomão Pereira (presidente da PadTec); Marco Aurélio de Almeida Rodrigues (presidente da Qualcomm); e Raul Del Fiol (presidente da Trópico).

Heloisa Magalhães (jornalista e editora do Valor Econômico)
Cumpriu com graça e habilidade a missão provocadora.

A jornalista Heloisa Magalhães, ao abrir o Debate Executivo com a “Visão dos Fornecedores”, formulou três provocações. Uma delas referente ao FUST – Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações –, no qual nada acontece. A outra, sobre o Governo do PT (Partido dos Trabalhadores), cujo discurso voltado para o social fazia prever grandes soluções para a inclusão digital. Finalmente, o aspecto regulatório que chegou a ser alcunhado de “pandemônio” por um parlamentar.

Jonio Foigel (presidente da Alcatel-Lucent)
Quer Banda Larga para todos.

Jonio Foigel, valendo-se de slides, quantificou a visão que a Alcatel-Lucent tem do planeta, que adentrou 2007 com 6 bilhões de pessoas. Dessas, quase a metade (2,7 bilhões) é atendida por celular, mas apenas 8% (470 milhões), por banda larga. O desafio do desenvolvimento socioeconômico mundial passa pelas telecomunicações com acesso à banda larga. Este acesso é a base no fornecimento de e-serviços que cobrem corporações, ciência, finanças, meio ambiente, governo e tantas outras atividades.

O mundo, hoje, sai do ciclo “voz-mobilidade” para entrar no de “banda larga, com qualquer tecnologia”. A mobilidade isolada (celular), hoje, tem como objetivo suprir um mercado próximo a 1 bilhão de pessoas de baixa renda, gerando um ARPU (average revenue per user) baixo para as empresas. Na visão da Alcatel-Lucent, são três grandes segmentos de usuários de telecomunicações para banda larga – os novos entrantes, os usuários de Internet e os usuários avançados –, cada qual com sua solução tecnológica.

Os novos entrantes (baixa renda) podem ser atendidos por celular e por elementos coletivos. O objetivo, nessa situação, pode ser aumentar a penetração da telefonia móvel. Para os que já são usuários de Internet, com computadores de mesa e telefonia fixa, é preciso oferecer soluções mais baratas, como o pré-pago e os limites de download.Finalmente, para os usuários mais avançados, dotados de computadores laptops, pode se pensar no oferecimento de banda adicional para operar tanto no escritório quanto em casa, acessando com novos conteúdos.

Fez ver o palestrante que “as telecomunicações no País passam por um ponto de inflexão, em que tudo parece bloqueado como nas áreas de 3G, Wi-Max e IPTV. O ponto de inflexão do setor, atualmente, passa pela ação regulatória governamental. Como fornecedor, a Alcatel-Lucent vê que seus principais clientes estão num momento de reflexão sobre o passo seguinte a adotar. A receita de telefonia, oriunda da voz, está em queda livre. A voz sobre IP – cuja qualidade de serviço vai melhorar no tempo – irá acelerar ainda mais essa queda”.

Prosseguindo, explicou Jonio Foigel que “as operadoras precisam de novas receitas e de um novo reposicionamento. O órgão regulador e o Governo têm uma posição vital para recuperar para as operadoras um novo ponto de equilíbrio, oferecendo, do ponto de vista social, uma solução a partir de um Novo Marco Regulatório”.

Afirmou o executivo ser preciso “abrir todas as tecnologias, novas ou não, com um novo padrão de universalização, calcado na realidade de mercado. Uma nova universalização não deve ter exigências exageradas, sem custos de OPEX (operational expenditures) gigantescos em decorrência de aberturas de lojas que ninguém visita e de disponibilidade de voz, onde ninguém a usa. É preciso buscar um compromisso inteligente. As tecnologias chegam de várias direções. Sua utilização vai depender dos ativos existentes e da melhor combinação para atender ao mercado de massa”.

A banda larga é oferecida praticamente através de ADSL (Assynchronous digital subscriber line), além da TV a cabo. Há ainda uma enorme gama de tecnologias para extensão dos serviços utilizando novas tecnologias de fibra ou de banda larga sem fio (seja 3G ou Wi-Max). A Alcatel-Lucent tem todo o tipo de tecnologia que pode ser escolhida para cada situação, local e operadoras, seja em cidade, município ou estado, mostrou Jonio Foigel que terminou por fazer referência ao projeto da empresa e de seus parceiros, na cidade de Mauá (RJ), no acesso a banda larga para conectar os órgãos do Governo e para os turistas que visitam a localidade.

– Tecnologia nós temos. Necessidade das operadoras mudarem de situação existe. O Governo tem, então, a faca e o queijo para desbloquear uma situação que já perdura há bastante tempo – concluiu o presidente da Alcatel-Lucent do Brasil.

Pedro Ripper (presidente da Cisco do Brasil)
Pilotando modelo de Cidades Digitais.

O presidente da Cisco advertiu inicialmente que não iria falar de soluções tecnológicas, tema que lhe fora sugerido pela organização, visto que a tecnologia – de acesso,51-painel-telebrasil-brasil-digital-surge-como-realidade-irreversivel-v core ou migração de rede – não é mais o gargalo para o Brasil Digital. Tecnologia já atingiu uma fase madura. A busca de soluções não deve ser de caráter excludente (ou) e sim cumulativa.

Valendo-se de slides, mostrou o executivo, passo-a-passo, como e por quê a Cisco, nos últimos dois anos, investiu esforço em projetos de Cidades Digitais. Como empresa global, a Cisco vê desafios equivalentes em muitas partes do mundo. No caso do Brasil, tais desafios estão concentrados nas áreas da saúde, educação e segurança. O Governo já reconhece que para cada uma delas, a solução digital se apresenta como uma solução interessante. O problema é que cada um dos ministérios envolvidos têm procurado resolver o problema segundo a sua própria ótica.

Metaforicamente, é como se cada posto de saúde, cada escola, cada PME do País quisessem construir sua própria rua, sua própria estrada e sua rede de transmissão elétrica para resolver o seu próprio problema. Há um certo nível de coordenação da indústria e do próprio País que precisa existir para que soluções sejam eficientes. Ao citar um palestrante anterior, lembrou o executivo que cada nova ligação via satélite – num país que não tem ainda sua estrutura suficientemente capilarizada – era sinônimo de nova licitação.

A Cisco, trabalhando com o Governo federal, de modo transparente, efetuou estudos de domínio público, valendo-se de dados conhecidos para aferir o grau de conectividade do País. “Não tanto na última milha, onde não está o gargalo, e sim no backhaul. Ou seja, como efetivamente levar conectividade de alta capacidade aos municípios. Pode-se, então, criar um modelo criativo para distribuir o acesso. Hoje, o Brasil – e sendo um pouco mais provocador que os dados oficiais – conta com menos de mil municípios com capacidade de backhaul (de infra-estrutura capaz de suprir minimamente a demanda do País por banda larga, seja no domínio público ou privado”), observou o palestrante, acrescentando ainda:

– Numa visão de mais longo prazo, será preciso levar o backhaul aos 5.563 municípios brasileiros. Aí, sim, iniciativas de saúde e educação, dentro do escopo de cada um dos ministérios e da iniciativa privada, poderão ser tratados na última camada de maneira não fragmentada. A primeira colaboração da Cisco foi um entendimento maior do problema aferindo o gap digital existente e compartilhando esses dados com o Governo e com outros parceiros da iniciativa privada. O intuito foi o de promover uma discussão de como é possível solucionar o desafio desse gap – esclareceu Ripper.

Prosseguindo, Pedro Ripper mostrou que, depois do entendimento do problema, a segunda colaboração da Cisco, tal como em qualquer projeto, foi promover medidas ou métricas e estabelecer metas. A Cisco patrocinou, há cerca de dois anos e meio, um estudo que levanta trimestralmente junto ao IVC (índice de vendas ao consumidor) onde está exatamente a penetração de banda larga no Brasil, seja por setor, tecnologia, geografia e por todas as variáveis relevantes a esse mapeamento.

O consenso geral, ao início do estudo, foi que a banda larga estaria saturada com cerca de 6 milhões de usuários. A boa notícia é que, hoje, o País já ultrapassou essa barreira. A meta estabelecida de 10 milhões de usuários até 2010 pode, agora, parecer tímida. Para o executivo da Cisco, é importante ter métricas concretas que possam ser compartilhadas gerando discussões sobre o que está funcionando no País em termos de banda larga e o que poderia funcionar melhor. O diálogo não é apenas da Cisco com o Governo ou com seus parceiros e sim o da indústria de telecomunicações de uma maneira geral.

Uma vez tendo a visão do desafio e as métricas correspondentes, o próximo passo é sair da esfera do planejamento e “botando a mão na massa” testar modelos na prática. Sem ser exaustivo, um dos modelos sendo testado pela Cisco é o de Cidades Digitais. O conceito é simples e se aplica a municípios menores. Hoje, vários órgãos das cidades, nesses municípios, tentam se conectar de maneira economicamente pouco eficiente, duplicando esforços. A idéia é ter um backhaul unificado e – isso vale para cidades menores – com estrutura compartilhada resolver o acesso de “n” entes da sociedade, público ou privado.

Nesse contexto, há cerca de uma ano e meio, a Cisco efetuou um primeiro trabalho na cidade histórica de Tiradentes, em Minas Gerais. “Colocado no contexto, a iniciativa era bem simplória, mas muito importante”, observou Ripper. O exercício era testar uma tecnologia, mas também testar a hipótese – vista por alguns como verdadeira e por outros com ceticismo – de que existe uma correlação direta entre inclusão digital e desenvolvimento socioeconômico. A Cisco efetua uma pesquisa com dados quantitativos e qualitativos para testar essa hipótese em Tiradentes, cujos os primeiros resultados se mostram alentadores.

Relatou Pedro Ripper que, em Tiradentes, uma localidade pequena num experimento bem controlado, o ambiente mudou. O turismo mudou? a educação mudou? o tempo de alfabetização média mudou? Com base nos primeiros resultados da coleta em andamento, adiantou o palestrante que o resultado qualitativo obtido foi muito encorajador. A Cisco, agora na Fase 2 de seu projeto abrangente, já iniciou há aproximadamente seis meses, cerca de dez experimentos-pilotos, como em Conservatória, no município de Valença (RJ), em parceria com o Proderj. Os experimentos estão sendo efetuados em diferentes áreas do Brasil, para entender a variação do impacto da inclusão digital e da conectividade, de acordo com o perfil econômico de cada município.

A seguir, disse o executivo da Cisco que uma vez comprovada claramente que há uma correlação positiva entre a inclusão digital e o impacto socioeconômico nas localidades, o próximo passo é o estudo dos modelos de negócios que dêem sustentabilidade às iniciativas de inclusão digital. Um modelo de PPP? Um modelo onde as concessionárias são donas da rede? Um negócio conjunto entre o município e a operadora? O Estado é o contratante amplo ou não? O objetivo, agora, é o de entender melhor o leque das possibilidades, ter uma participação e contribuir para que a visão do Brasil Digital se torne viável. Não se trata de um modelo exaustivo que não contemple outras possibilidades, mas é mais um elemento para munir de dados concretos a próxima jornada.

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